Essa semana eu twittei algo que estava na minha mente há muito tempo. Tudo começou quando eu vi algumas mulheres falando o quanto era ótimo que os maridos delas a ajudassem nas tarefas domésticas. Lavassem uma louça de vez em quando, colocassem as roupas pra bater na máquina e até ajudavam a cuidar da criança trocando fralda algumas vezes. Oi? Amiga, senta aqui, vamos conversar.
Por que você acha que por ter nascido do sexo feminino automaticamente as tarefas domésticas são responsabilidade sua? E se o marido “ajuda” de vez em quando ele está sendo um bom marido? Meu amor, deixa eu te contar uma coisa: ele não faz mais do que a obrigação dele.
Eu sei que esse meu entendimento vem, graças a Deus, da educação bacana que tive. Avaliando bem agora, depois de adulta que eu percebo que meu pai era feminista. Isso mesmo. Até mais que minha mãe. Nós tínhamos uma escala de serviço em casa. E todo mundo participava, incluindo ele mesmo. Quando um lavava a louça o outro secava e guardava. Quando um tirava o pó e varria o outro vinha passando pano. E os serviços eram sempre revezados.
Eu e meu irmão tínhamos que aprender a fazer de tudo. Eu mesma sei trocar resistência de chuveiro por exemplo e muitos outros serviços considerados “de homem”. Cada um com suas tarefas, seus afazeres e sim, ganhávamos mesada de acordo com o nosso trabalho. Não tinha essa de “tarefa doméstica é serviço de mulher”. Não mesmo. Todo mundo fazia sua parte, e serviço não faltava na casa enorme na qual morávamos na Ilha do Governador.
Infância incrível a minha. Um quintal enorme, muita liberdade, pés descalços, brincadeiras infinitas, estudos (porque ambos eram muito exigentes com nossos estudos) e sim, trabalhos domésticos. Confesso que minha tarefa doméstica favorita era lavar a varanda nos dias de calor. Porque né, que delícia era ensaboar tudo e se jogar pra escorregar.
A lembrança me faz até rir, de tanta coisa boa que eu fiz quando criança. Era uma molequinha e ia atrás do meu irmão em tudo quanto ideia louca que ele tinha. Foi bom demais. Meus pais foram os grandes responsáveis por uma infância tão rica de experiências, amor, aprendizado e diversão. Onde nossos valores mais fundamentais foram construídos.
Tarefas domésticas são dever de todos que coabitam.
Mas voltando ao assunto. Eu aprendi que tarefas domésticas são obrigação de todo mundo que mora no mesmo lar. Pois todos que ali coabitam comem, sujam louça, roupa, roupa de cama, chão, banheiro. Todos tomam banho, escovam os dentes, fazem suas necessidades. Usam os sanitários, toalhas, roupas de cama, e suas próprias roupas. Por que a responsabilidade de limpar e arrumar tudo isso tem que ser da mulher? Não tem. Cada um tem a obrigação de fazer sua parte. Se o homem faz a parte dele em casa, não está te “ajudando”, está fazendo o que tem que ser feito e ponto.
Vamos colocar assim: imagine que ele morasse sozinho. Que não tivesse empregada. Ele não iria fazer nada? A casa ia afundar em caos, não ia? Porque há mulheres que ainda tratam maridos como coitadinhos dando-lhes a chance de escolher se querem ajudar ou não, e no que querem ajudar. Essas mulheres são machistas. Tratam maridos como se fossem filhos pequenos, e ficam agradecidas como se fosse um grande gesto lavar uma louça que ele mesmo sujou. Ah me poupem.
Se vocês dividissem apartamento com um amigo ou uma amiga, eles não iriam ter que fazer a parte deles também? Divisão de tarefas, amores.
“Casamento não é emprego“, já me dizia minha mãe. E eu completo: não é emprego e muito menos escravidão. Você não é empregada dele. Se ele casou com você pelos seus talentos culinários e pela maneira como você cuida da casa, amiga, você não passa de diarista dele. Com a única diferença que você não tem carteira assinada pra isso, não recebe pra isso, e ainda divide a cama com ele. Sim, só verdades aqui, nuas e cruas. E não vem me dizer “ai, tadinho ele trabalha tanto”. Porque mesmo que você esteja desempregada, ainda assim não é obrigação sua. Acorde!
Eu faço um bolo muito bom e cozinho várias coisas gostosas. Quero ouvir que já posso casar? Não. Mas adoraria ouvir que já posso abrir meu bistrô, por exemplo. Então amiga, se você pensa que sua obrigação é cuidar da casa e que ele está te fazendo um grande favor ao fazer o mínimo da parte dele, a verdade é que você é machista.
Não tem essa de ajuda. É cooperação, parceria!
Se você está nessa e não quer continuar assim, aprenda a delegar. E se ele não fizer a parte dele, deixe lá, sem ser feito mesmo até que ele se incomode e reclame. Aí quando ele reclamar você fala pra ele que ele tem que fazer a parte dele também. Sem essa de ajudar, ele não tem que ganhar estrelinha por limpar o que sujou! Não tem que ganhar estrelinha por nada. Combinado?
E quando for uma tarefa que possa ser feita em conjunto, como cozinhar, por exemplo, o faça de modo prazeroso. Coloquem uma música, curtam o momento enquanto um coopera com o outro. Tarefas domésticas podem ser divertidas. Só não pode é achar que a obrigação é só da mulher. Lembre-se, ele não está te fazendo nenhum favor.
E quando os filhos estiverem na idade de entrar na dança, coloque-os para fazer a parte deles também. Uma escala com as tarefas como o meu pai fez foi ótimo e justo. Porque no fim das contas, é tudo uma questão de justiça. Igualdade. Direitos e deveres iguais.
Agora, se você quer continuar nessa, tudo bem. Direito seu. Mas depois não pode reclamar. E cuidado com os valores que vai passar para seus filhos. Chega de criar meninas com mentalidade para serem escravas e meninos folgados. As gerações futuras agradecem.
E homens, por favor, tá mais que na hora de vocês entenderem que casamento é parceria. Pelo amor de Deus, façam a parte de vocês. Não sejam garotos mimados jogados no sofá arrotando ordens. Isso é horroroso.
Estamos entendidos? Então tá bom.
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